quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

AVENTURA - PARTE 33

CINEMA PARADISO
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HARRY POTTER E A PEDRA FILOSOFAL

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O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULAIN

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O AGENTE DA ESTAÇÃO
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EU, ROBÔ
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A INVENÇÃO DE HUGO CABRET
COMENTÁRIOS

Por Malcon Bauer: Confesso que quando vi o primeiro trailer de A Invenção de Hugo Cabret eu tive medo. Crianças fugindo de um adulto atrapalhado com um cachorro... um bolo... Será que Martin Scorsese estava pra cometer um erro descomunal... e em 3D?
Ledo engano. O filme é nunca menos que espetacular.
Na trama, o jovem Hugo (Asa Butterfield, de O Menino do Pijama Listrado) é um jovem que vive na estação de trem enquanto tenta consertar um estranho robô deixado por seu pai. Ele acaba conhecendo a jovem Isabelle (Chloe Moretz, a Hit-Girl de Kick-Ass) e seu tio Georges (Ben Kingsley, de Gandhi). Começa então uma aventura que irá levar os dois jovens até os primórdios da história do cinema.
Scorsese é um gênio. Ele consegue unir de forma perfeita todos os elementos emocionais e técnicos que a história contém.
O plano de abertura do filme é de deixar qualquer um de boca aberta. O 3D é maravilhosamente usado para nos levar para dentro daquela Paris de contos-de-fadas.
Butterfield e Moretz tem excelente química, alternando a inocência e a coragem necessários para nos emocionar em suas buscas por um lugar no mundo.
Já o personagem de Kingskey (em atuação soberba e emocionante) é responsável por uma das maiores maravilhas que já presenciei numa telona. A dimensão trágica que a figura do cineasta atinge é de cortar o coração.
Quando os curtas de Méliès são exibidos dentro do filme (alguns originais, alguns magnificamente recriados) eu simplesmente não conseguia parar de chorar.
A direção de arte e a fotografia realizaram um trabalho impecável recriando os estúdios, figurinos e traquitanas daquela época onde o cinema começava a se tornar um máquina de sonhos.
O filme ainda conta com diversos coadjuvantes adoráveis (destaque para o engraçadíssimo Sacha Baron Coen, o Borat) que compõe o universo da estação de trem.
É notório que os dois filmes com mais indicações ao Oscar este ano sejam duas belas homenagens ao cinema (o outro é O Artista).
E você não precisa escolher. Apenas saiba apreciar as maravilhas que cada um deles oferece.

Por Vicente Concílio: A Invenção de Hugo Cabret é aquele tipo de obra que tem tudo, absolutamente tudo para ser alvejado pelos rancorosos de plantão. Mas resulta em uma obra-prima, por seu triunfo narrativo e pelo explícito fascínio de Scorsese em desenvolver uma trama visual e sonora que mescla complexidade e emoção verdadeiras a uma trama belíssima.
É uma história à lá Charles Dickens, sobre um menino órfão que, ao tentar concluir um trabalho inacabado por seu pai, acaba mudando a vida de um ranzinza proprietário de uma loja de brinquedos. Morador da estação central de trens de Paris, Hugo herda a função de cuidar dos relógios daquele local, vivendo escondido nas entranhas de um local marcado por encontros e despedidas. Mas o encontro que marcará sua vida vai, sem dúvida, promover um acerto de contas entre o passado e a capacidade humana de se apaixonar por e persistir na arte de contar histórias.
Isabelle, sobrinha do dono da loja de brinquedos, apaixonada por livros, vai descobrir com Hugo a magia do cinema, e juntos eles vão perceber que estão muito próximos da história do nascimento do cinema.
Isso faz do filme uma declaração de amor à própria cultura humana, à nossa necessidade de inventar e narrar histórias fascinantes, seja através dos filmes, dos livros, do teatro e do circo. Scorsese insere de forma magistral seu apelo à preservação da história da sétima arte, trabalho que ele realiza há três décadas através da The Film Foundation.
Qualquer apaixonado por cinema vai se ver abalado pela apresentação dos primórdios do trabalho cinematográfico, de seu vínculo com o teatro e o circo, com o esforço magistral de artesãos que se aventuraram na busca por formas de construção de realidades incríveis e inexistentes através do fascinante apelo das imagens em movimento.
O filme é todo feito em 3D, incorporando a mais avançada tecnologia cinematográfica, o que amplia o impacto das imagens primitivas do cinema mudo, além de amplias o impacto da direção de arte de Dante Ferreti, escandalosamente bela. Sua recriação da estação de trem e de suas estruturas, o cuidado delicado nas recriações dos cenários dos filmes de Méliès são emocionantes.
Trata-se um filme impactante, na sua forma e no seu conteúdo. Seus temas tocam, coincidentemente, muitos dos assuntos tratados por outros filmes concorrentes ao Oscar: como em Os Descendentes e O Homem que Mudou o Jogo, há o homem que recupera o sentido de seu estar no mundo; como em Meia-noite em Paris, há o deslumbramento pela cidade luz e o eterno jogo entre o passado e o futuro, que devemos equilibrar no presente. Como em Tão Forte e Tão Perto, há o acerto de contas com a ausência paterna através de um avô "substituto" e, por fim, como em o Artista, há a escancarada declaração de amor ao cinema e uma narrativa singela que, em Hugo, na verdade atinge uma densidade fenomenal.
Obra de um diretor com perfeito controle de todo seu ofício e com destaque ao trabalho soberbo de Ben Kingsley, esse A Invenção de Hugo Cabret é, de longe, o melhor exemplo de como um verdadeiro tributo ao cinema se faz através de ótimos filmes.

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