domingo, 5 de fevereiro de 2012

DRAMA - PARTE 22

O JARRO+

CENAS DE UM CASAMENTO+

DOMÉSTICAS - O FILME+

KRAMER VS. KRAMER=

A SEPARAÇÃOCOMENTÁRIOS


Por Malcon Bauer: Hora de acabar com o velho preconceito de que filmes iranianos são experiências muito lentas onde um grupo de crianças precisa resolver o problema da rachadura de sua cumbuca. Admito que tenho um certo ranço também, e tenho lutado contra ele. Recentemente assisti o ótimo O Terno de Casamento, de Abbas Kiarostami, e adorei. E por que não aproveitar que o mais recente sucesso do Irã está em cartaz em várias salas e experimentar?
A Separação começa quando o casal Simin (Leila Hatami, linda) e Nayder (Peyamn Moadi) se separa porque ela quer ir para o exterior com a filha de 11 anos e ele não permite. Este fato dá origem a uma série de acontecimentos envolvendo Razieh (a ótima Sareh Bayat), contratada por Nayder para cuidar do pai doente e o marido dela (Shahab Hosseini). Não convém contar mais para não estragar o ótimo desenrolar da história.
Esqueça os clichês da pobreza e lentidão relacionados ao cinema iraniano. O diretor e roteirista Asghar Farhadi cria um filme urbano, dinâmico e tenso, uma espécie de filme de filme tribunal com as peculiares características daquela cultura.
O elenco afinadíssimo (incluindo as crianças, realmente impressionantes) nos conduz por uma narrativa onde todos os personagens tem suas próprias culpas para lidar. E lidam com ela por meios tortuosos. Nós observamos tudo através de uma nervosa câmera na mão, que nos faz sentir como intrusos nos apertados cômodos onde a maior parte da historia se desenrola. A tensão é quas insuportável.
Uma história universal (divórcio, processos, brigas de casal, diferenças de classe) ganha interessantes contornos quando fatores tão particulares como a devoção religiosa e a posição da mulher naquela sociedade ganham destaque. Decisões tomadas pelos personagens baseadas apenas no fervor da fé podem surpreender o público, e garantem que o final da história seja realmente imprevisível.
A Separação é um ótima maneira de você perder qualquer preconceito para com o cinema iraniano. E, até agora, o melhor filme que está em cartaz nesta temporada de premiações.

Vicente Concílio:
Nós sabemos o quanto é importante quando um filme nos transporta para realidades maiores que a vida. Quando nos vemos dentro de um submarino, ou em paisagens impossíveis, ou em cenários improváveis de um futuro distante ou em residências britânicas de séculos passados. Mas vez por outra a câmera nos põe dentro da sala de estar de pessoas comuns, e filmes cujo roteiro genial associado a um elenco perfeito nos transforma em testemunha de grandes reviravoltas íntimas que suplantam, por intensidade e empatia com o público, qualquer explosão em CGI de filmes de ação histéricos e ocos.
A Separação tem esse poder documental, de nos inserir como testemunhas do impacto do fim de um casamento na vida prática de Naden, o marido que não aceita a opção de sua esposa em abandonar o Irã. A ele restam a guarda da filha e os cuidados de seu pai, já doente. À medida em que a história avança, são reveladas as complexas relações que justificam as opções tomadas por ele e sua esposa, as motivações sinceras que obrigam cada um a decidir o que é mais importante para si. O filme vai expondo em que medida como, apesar da separação, eles são ligados por laços familiares, laços religiosos e sobretudo afetivos, portanto toda decisão tomada não é fruto de impulsos superficiais justificados por slogans de auto-ajuda.
Mas não se trata de um filme sobre a tal separação do título. Ao contratar uma mulher para ajudá-lo com os cuidados de seus pais, Naden vai ter de lidar com uma série de problemas causados pela entrada de uma outra pessoa em sua vida, e isso significa abrir espaço em sua vida para os valores e limitações de Razieh. Pobre, religiosa e acompanhada de sua filha pequena, Razieh também tem muito a enfrentar em termos religiosos, físicos e sociais para se adaptar aos cuidados de um homem senil. Desse encontro, vai resultar uma experiência trágica. E tão trágico quanto o ato e os fatos em si é a busca pela verdade desses fatos.
A Separação é um filme iraniano urbano, que exibe a classe média de um país que costuma ser retratada como uma nação de ortodoxos religiosos pobres que aceitam a opressão religiosa sem questionar nada. é também um triunfo pela complexidade de seu roteiro, em como ele parte de uma aparência documental e simples, e a partir disso convida a audiência a uma análise instigante sobre o outro, sobre a procura pela verdade e nossa frágil relação com a justiça.
É, pra mim, o melhor filme desses todos que concorrem ao Oscar. Imperdível mesmo.

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