sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

AVENTURA - PARTE 41

DJANGO
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... E O VENTO LEVOU
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AMISTAD
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BANZÉ NO OESTE
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DJANGO LIVRE
CRÍTICA: Um de meus maiores prazeres como cinéfilo é mergulhar nos universos apresentados pelos filmes de Quentin Tarantino. Cada uma de suas obras relê e homenageia o cinema como um todo, porém dentro de um gênero específico. Pulp Fiction é sua visão dos policiais e gangstêrs. Kill Bill dos filmes de Kung Fu. Bastardos Inglórios invade os filmes de guerra e vira tudo de cabeça pra baixo. Tarantino é um mestre em esmiuçar um gênero e reinterpretá-lo, sem desvirtuar suas origens e sempre surpreendendo com referências inesperadas.
Em Django Livre a bola da vez é o faroeste.
Na trama, passada em 1858 o escravo Django (Jamie Foxx, de Ray) forma com o caçador de recompensas Dr.Schultz (Christoph Waltz, de Bastardos Inglórios) uma curiosa aliança. Ela culminará num ousado plano para salvar a esposa de Django do terrível fazendeiro escravocrata Calvin Candie (Leonardo DiCaprio, de O Aviador).
Uma história simples que, nas mãos de Tarantino, torna-se épica . O roteiro divide-se claramente em três atos, envolvendo a evolução de Django como escravo até um homem capaz de tornar as rédeas do próprio destino.
No caminho, encontrará um série de personagens pitorescos interpretados por um elenco excepcional.
Aliás, o elenco é uma festa de talentos raramente reunida. Waltz está brilhante como um caçador de recompensas letrado e irônico. DiCaprio cria um vilão carismático e ameaçador. Samuel L. Jackson (de Pulp Fiction) entrega uma performance incrível como Stephen, o odioso e antipático "negro da casa" e principal capanga de Calvin Candie. Sobra espaço até para Franco Nero, o Django do filme de 1966, dar o ar da graça. Uma cena deliciosa.
Curiosamente, é Jamie Foxx que tem a performance mais discreta. Seu personagem não tem muitos diálogos, mas sua presença torna-se cada vez mais imponente no decorrer da história (principalmente no terceiro ato).
Nunca Tarantino falou tão "sério" em seus filmes. É claramente distinta sua abordagem da violência contra os escravos e contra os brancos. Enquanto os primeiros recebem um tratamento rigoroso e chocante, sem qualquer humor ou "piadinha de edição", os segundos são mortos em sequencias cheias de exageros e piadas.
Uma cena mostrando um grupo de Ku Klux Khan retrata-os com verdadeiros idiotas naquele que é o momento mais engraçado do filme, parecendo algo tirado de um filme do Mel Brooks (Banzé no Oeste).
O discurso do personagem Calvin Candie sobre a aparente  "propensão evolutiva à subserviência" dos negros também é chocante e revela um tipo de pensamento que, infelizmente, não é tão incomum assim.
O filme anda causando polêmica pelo uso excessivo da palavra "Nigga" (negro), mas é preciso ser muito idiota para acusar o diretor e roteirista de preconceito racial.
Além dos fatos citados acima, Django Livre encontra, em sua estrutura, uma maneira orgânica e funcional de mostrar o negro se tornando senhor de sua própria vida, sem a ajuda do "bom branco" (como no odioso Histórias Cruzadas).
Porém, o momento em que essa reviravolta chega pode ser visto como um problema da película.
O filme dura 2hs e 45 minutos. O terceiro ato chega após duas horas, e muda o tom do filme tão radicalmente que me pergunto se o diretor não poderia ter tirado uns 20 minutos dos dois atos anteriores. Isso evitaria que o fim do segundo ato se tornasse uma espécie de anti-clímax (o que acaba acontecendo).  Mas eu mesmo não saberia o que tirar... Qualquer cena de 20 minutos onde os personagens falam sobre algo que não tenha absolutamente nada relacionado com a história é uma maravilha de assistir. Mesmo que suas partes sejam mais fortes que o todo, é sempre um filmaço. Um filme que renderá, como todas as obras do diretor, grandes e animadas discussões.
Django Livre mostra um Tarantino mais comportado cinematograficamente (uma história linear e com poucos artifícios de edição) e no completo domínio de seu universo, porém mais ousado na temática.
Afinal, é muito fácil os americanos gostarem de sua zoação com o nazismo em Bastardos Inglórios. Mas olhar para o próprio umbigo e cutucar a ferida da escravidão não é tão divertido assim.



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