domingo, 20 de janeiro de 2013

DRAMA - PARTE 31

COCOON
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O ESCAFANDRO E A BORBOLETA
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AMOR
CRÍTICA: É raro nos dias de hoje um filme que realmente incomoda. E incomoda porque esfrega na nossa cara nossos pensamentos mais negros e profundos. Os filmes do diretor Michael Haneke (A Fita Branca, Caché) tem essa habilidade. E Amor faz isso com uma crueldade impressionante.
Na trama, o casal de velhinhos Anne (Emmanuelle Riva) e Georges (Jean-Louis Trintignant) vive uma vida feliz, entre cafés da manhã, passeios e idas a concertos. São cultos, inteligentes e economicamente estáveis. Tudo muda, porém, quando ela tem um derrame e passa a depender dos cuidados do marido. Ela recusa-se a ir para uma instituição médica. Ele respeita seu desejo. A degeneração gradativa da esposa vai transformar o antes animado apartamento em um mausoléu.
O filme passa-se quase que totalmente no imóvel, e é extremamente opressivo acompanhar sua transformação através da chegada de enfermeiros e equipamentos médicos.
A passagem de qualquer pessoa pelo local, seja o síndico do prédio ou a filha do casal (Isabelle Huppert, de A Professora de Piano) serve apenas para que o casal precise lidar com aqueles terríveis olhares de piedade e sejam sempre lembrados da própria desgraça.
O casal de protagonistas está brilhante, entregando performances que assustam pela crueza.
Haneke não poupa o espectador, e toma todo o tempo necessário para que possamos assimilar a degradação física de Anne e a degradação emocional de Georges. Longas sequências silenciosas onde apenas observamos Anne tentando abrir um livro ou Georges tentando dar-lhe um pouco de água causam repulsa e agonia. A tristeza é constante, a crueldade de realidade nunca é amenizada, e a perda da dignidade é constantemente enfatizada.
E quando chega o final, o diretor dá um tapa na nossa cara com uma conclusão que era esperada desde o início, mas que ainda assim choca.
Ao sair do cinema, os mais velhos poderão pensar se terão destino semelhante. Os mais jovens se colocarão no lugar da filha, pensando no que terão que, um dia, fazer com seus pais.
De acordo com Haneke, o cenário será sempre desolador.

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