domingo, 30 de outubro de 2011

COMÉDIA - PARTE 38

A VIAGEM DO CAPITÃO TORNADO+

O MAIOR ESPETÁCULO DA TERRA=

O PALHAÇOCOMENTÁRIOS:


Por Malcon Bauer:
Fazer rir é, na minha opinião, a melhor coisa do mundo. Falo isso com o conhecimento de causa de quem escreve, atua e vive para a comédia. A sensação de surpreender alguém (que é a base do humor) causa uma satisfação sem a qual não me considero capaz de viver. E O Palhaço me falou muito alto sobre este aspecto.
Acompanhamos as desventuras de uma trupe circense liderada por Beijamin (Selton Mello, de O Cheiro do Ralo, e também diretor do filme) e pelo seu pai (Paulo José, de Saneamento Básico).
Em suas viagens pelo interior do Brasil eles enfrentam toda a pobreza e a dificuldade da vida do artista. Algumas sequências, como a do café na casa do prefeito, são engraçadíssimas e entristecedoras ao mesmo.
É impossível para quem trabalha com a arte mambembe do circo e do teatro não se identificar com situações tão profundamente arraigadas no nosso inconsciente desde os primórdios históricos da profissão (apenas trocou-se um jantar no palácio por editais do governo).
Benjamim está em crise com sua arte, e em determinado momento da história, abdica da profissão "palhaço" e tenta uma vida normal. Porém, não é a "necessidade de ser artista" que o leva de volta.
É simplesmente redescobrir o prazer que fazer alguém rir provoca. Esta epifânia do personagem se dá num momento que, para mim, beira o sublime.
O elenco, afinadíssimo, conta com participações espetaculares de Moacyr Franco, Tonico Pereira e Jorge Loredo.
Selton Mello acerta o tom de sua personagem, um desajustado social que só encontra a completude quando alguém lhe abre um sorriso do qual seja o catalisador. Nas cenas com Paulo José, as faíscas saltam aos olhos.
Como diretor ele compõe momentos muito interessantes, colocando os atores no centro da tela, como se estivessem em cena (ou num picadeiro).
O Palhaço é divertido, delicado e uma declaração de amor ao ofício da comédia. E como diz um persnagem, "o gato bebe leite, o rato come queijo, e eu sou um palhaço".
Sábias palvavras, abençoadas por São Filomeno.

Por Vicente Concílio: Quando a trupe de circo surge em uma estrada empoeirada, logo na primeira cena de O Palhaço, entendemos logo que o filme vai tratar da arte como metáfora para a vida. Talvez seja uma menção ao Fellini e seu A Estrada, obra-prima que afirma a potência da arte ante nossa impermanência e escancara a batalha que é, para um verdadeiro artista, sobreviver através de sua arte.
Mas essa estrada inicial de O Palhaço vai revelar mais dificuldades que sua poeira; elas vão surgir, primeiro como tarefas banais do cotidiano (um sutiã que arrebentou, a grana que é curta, por exemplo) mas sua verdadeira face é o vazio angustiante que é a decisão de decidirmos o que queremos ser, principalmente quando a experiência é restrita e as opções não são muito evidentes.
Nesse sentido, o filme é também uma reflexão sobre a sobrevivência dos artistas nesses tempos sombrios em que vivemos, porque a arte existe e todos aparentemente precisam dela pra viver melhor. Mas quem alimenta o artista? Ou, na pergunta do protagonista, "Quem faz o palhaço sorrir?" Talvez por isso o filme, embora tente fazer sorrir, espalha tristeza e uma vaga presença da morte o tempo todo, mesmo no seu clímax supostamente feliz.
É interessante perceber essa marca autoral e é louvável a coragem de Selton Mello, que produz uma obra marcada não pelo apelo comercial (embora ele seja necessário), mas pelo percurso de quem, como seu protagonista, talvez esteja à deriva, procurando algo mais que fazer parte de coisas como A mulher invisível. É um filme emocionante.

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