quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

DRAMA - PARTE 23

CORINA - UMA BABÁ PERFEITA+

DOMÉSTICAS - O FILME

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JULIE & JULIA

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HISTÓRIAS CRUZADAS
COMENTÁRIOS:

Por Malcon Bauer: Histórias Cruzadas é um filme agradável. Tem drama, humor, doçura e redenção.
Na trama, passada em 1962 , uma jovem (Emma Stone, de Amor a Toda Prova) resolve colher depoimentos de um grupo de empregadas negras e dar-lhes voz em forma de livro. Para isso, irão enfrentar todo o preconceito de uma cidadezinha no Mississipi.

O filme é quadrado em sua forma. A apresentação das personagens é esquemática e previsível. Seu maior trunfo é o elenco. Temos a arrebatadora Viola Davis (que tem sensacionais cinco minutos em Dúvida e aqui domina a cena), a engraçada Octavia Spencer (Sete Vidas), a fria Bryce Dallas Howard (A Dama Na Água), a exuberante Jessica Chaistain (A Árvore da Vida) e a maluquinha Sissy Spacek (Carrie, a Estranha). Num filme onde as mulheres tem todo o destaque, é maravilhoso observar um elenco tão afinado trabalhar, lutando para trazer profundidade para personagens tão rasos e unilaterais.

Como eu já disse, é fofo, emocionante, engraçado e bonitinho.

História Cruzadas
é também um filme imensamente hipócrita.
Quer mostrar o ponto de vista das empregadas negras através do filtro de uma personagem branca . Um “anjo branco” que vem em resgate das pobres domésticas que não sabem articular uma reação. Até entendo que o livro deve ser assim (não li A Resposta).

Porém, o filme ocupa muito mais tempo apresentando os dramas das mulheres brancas do que daquelas mulheres aos quais supostamente deveria dar voz.

Isso é perceptível quando notamos o enorme tempo dedicado ao “caso da torta”(sem spoilers) e aos dramas do personagem de Stone em comparação ao mísero tempo empregado no caso de violência doméstica sofrida pela personagem de Spencer. É revoltante.

Um feel-good-mea-culpa-movie que deve ter feito os americanos se sentirem muito bem com eles mesmos... Afinal, eles agora deixam os negros usar os banheiros dentro de casa. Podem dormir em paz. Me senti da mesma maneira quando vi o chato Crash – No Limite (que ganhou o Oscar, vejam só).

Histórias Cruzadas
é um filme equivocado e preconceituoso que não devia ter tanta atenção. Assista pelas atrizes. Elas são realmente impressionantes e afinadas. O resto? As piadinhas, a fofura e a redenção? Esqueça.

Por Vicente Concílio: A aparente inocência desse Histórias Cruzadas é o que o torna um dos filmes mais retrógrados e nocivos que vi em muito tempo. Sua singeleza na verdade esconde um preconceito profundo, na aparência de obra progressista. Ao se apropriar das trágicas histórias das faxineiras negras como pano de fundo para narrar "o nascimento de uma escritora", ou o despertar da consciência social de senhoritas brancas a partir daquilo que elas podem fazer para ajudar suas babás (desde que elas permaneçam servis a suas patroas), o filme afoga qualquer possibilidade de discussão crítica e escancara que, em pleno século 21, pra se contar histórias que envolvam domésticas negras, ainda é preciso de um ponto de vista asséptico e redentor. O que é revoltante, porque quem se dá bem é a heroína branca, que parte ruma a Nova York posando de moderna enquanto larga pra trás as mulheres que tiveram coragem de lhe contar suas histórias de abuso e humilhação constantes.

A tal escritora é interpretada de forma sofrível por Emma Stone, em um módulo Shirley Temple (serelepe e saltitante, em um esforço constante de mostrar que "sua alma" não é do Mississipi), o que salta aos olhos em um filme cujo maior trunfo são, justamente, as impecáveis interpretações de Sissy Spacek, Allison Janney, Brice Dallas Howard e as indicadas ao Oscar Octavia Spencer, Jessica Chastain e Viola Davis. Apreciar o trabalho maravilhoso que essas mulheres exibem quase compensa a tortura que é aturar um filme desonesto, manipulador e convencional no pior sentido.

Na década de 50, quando a censura determinava o tratamento cinematográfico dado a determinadas temáticas, diretores geniais encontravam formas de abordar a hipocrisia do american dream através de melodramas aparentemente inofensivos, mas que escancaravam as formas nada sutis de opressão que sustentavam o florescer da classe média. As convenções sociais, a obediência feminina e as formas veladas de racismo foram matéria-prima para as obras-primas de Douglas Sirk, autor de Imitação da Vida, uma das obras-primas do gênero e que merece, esse sim, ser revisitado sempre que uma atrocidade como esse Histórias Cruzadas tenta empunhar a bandeira dos direitos civis das mulheres negras. É uma pena que um trabalho tão lindo como o de Viola Davis esteja submerso em veículo tão medíocre.

Um comentário:

  1. E a gente acha arqueológico que o circo-teatro ainda leve melodramas abolicionistas, com o herói bom branco salvando o bom selvagem e tal...se hollywood ainda faz um filme como esse. Preguiça muita. Inda mais que o Malcon consegue colocar no mesmo texto tudo que odeio em cinema: fofura, quadradice e hipocrisia.

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