segunda-feira, 12 de março de 2012

COMÉDIA - PARTE 43

DOMÉSTICAS
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HISTÓRIAS CRUZADAS
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ROMANCE DE EMPREGADA
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AS MULHERES DO 6o ANDAR
COMENTÁRIO: As Mulheres do 6o Andar é o que podemos chamar de filme certo no momento certo.
Na trama, passada na Paris dos anos 60, acompanhamos a rotina de um grupo de domésticas (em sua maioria espanholas, todas fugindo da ditadura católica de Franco) que trabalha num prédio de ricaços. Todas moram juntas no sexto andar do prédio, um lugar paupérrimo, sem aquecimento e apenas um banheiro (domésticas e seus problemas com banheiros parecem estar na moda). Suas vidas cruzarão com a vida de um entediado corretor da bolsa de valores (Fabrice Luchini, de Potiche - Esposa Troféu). Logo, ele desenvolve um laço de amizade com o grupo e tenta tornar suas vidas melhores. Porém, são elas que farão a real diferença em sua vida.
Já vimos isso antes este ano, não é? Bons brancos ajudando as pobres empregadas a ter dignidade e uma vida melhor...
Pois pode esquecer toda a lenga-lenga maniqueísta do hipócrita Histórias Cruzadas.
Neste filme aqui, não existe nenhuma personagem unidimensional ou um "terrível vilão" para tornar a vida das domésticas um inferno.
O diretor Philippe Le Guay é extreamente bem-sucedido na forma como cada personagem apresenta múltiplas facetas.
As ações do corretor, mesmo bem-intencionadas, não deixam de apresentar segundas intenções.
As empregadas, apesar do status social baixo, não são de maneira nenhuma totalmente submissas. E suas atitudes dão a cada personagem sua individualidade e relevância na narrativa.
Desta maneira, a relação entre as personagens torna-se extremamente rica em nuances.
O melhor exemplo que posso citar é a personagem da mulher do corretor.
Aviltada pela amizade que o marido desenvolve com as domésticas e desconfiando de sua traição com uma delas, a personagem poderia facilmente se tornar um megera enlouquecida como Bryce Dallas Howard em Histórias Cruzadas.
Porém, os caminhos que a personagem toma são inesperados e nem um pouco "vilanescos". Um alívio nestes tempos de figuras chapadas.
O elenco brilha em sua totalidade (incluindo a sempre genial Carmen Maura, de A Pele Que Habito) e é uma delícia acompanhar os dramas e comédias deste grupo de personagens.
Um filme que, apesar de não se propôr como um tratado da luta de classes, aborda o assunto com delicadeza e sinceridade.
Não deixe de conferir.

Um comentário:

  1. ver este filme é como dançar uma valsa com quem sabe dançar... tudo bem marcado, tudo certinho, mas com um resultado final de muita satisfação. Só discordo um pouco do comentário em ralação à situação do prédio onde elas moram ser de ricaços. Eu diria de uma classe média, e a importância que tem isso no contexto é que as domésticas espanholas também são de classe média, só que de um país totalmente antagônico à frança (principalmente naquele momento) em relação à liberdade e á religiosidade. Distante no tempo vemos um Rei de Angola ser chicoteado como escravo no Brasil escravagista... semelhanças sutis ou brutas, causadas pela demência de quem manda.

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